PARTE 4 - "EU TENHO PAI. SABIA?"

[TESTEMUNHO – PARTE 4] 

"É verdade que toda correção parece, de momento, antes motivo de pesar que de alegria. Mais tarde, porém, granjeia aos que por ela se exercitaram o melhor fruto de justiça e de paz", (Hebreus 12,11).

A respeito do rapaz de quem lhes falei nessa história, as pessoas costumam achar que se trata de um cafajeste ou, pelo menos, que se comportou como tal. Uma delas, carinhosamente me disse: “Kati, fiquei chateado com esse cara de 2012”. Outra, mais rude, afirmou: “Se ele cumpre todos os requisitos da tua lista, então, significa que tu tem pedido a Deus um cafajeste, né? Porque é isso que ele é”. 

Eu, por outro lado, o vejo como aquele grão de areia que invadiu o interior da ostra causando-lhe dor – e o fez não por ser mau ou por ter a intenção de feri-la, mas “em virtude de sua aspereza, arestas e pontas"... - causando-lhe dor, é verdade, mas também estimulando-a a utilizar aquela "substância lisa, brilhante e redonda" (aqui representando Deus) e, com isso, produzir uma pérola. Em outras palavras, para mim ele representa "cura" - aquela dor de quando o Médico Divino está a tratar os ferimentos da alma com um 'remédio que arde', um 'bisturi que corta', uma 'agulha que costura'... Tal como ele mesmo me disse certa vez: "Sou no máximo um instrumento".

"[...] Olha devagar para cada coisa.
Aceita o desafio de ver o que a multidão não viu.
Em cascalhos disformes e estranhos, diamantes sobrevivem solitários"
, (1) padre Fábio de Melo.

Vale ainda lembrar que há sempre dois lados de uma história e que, se olharmos apenas para um dos lados julgaremos erradamente...

“Lembre-se que não foi bem assim"... 
- “Nunca me convidas pra fazer coisa alguma: jantar, sair, conversar. Acho que não estás interessada!” 
- “Kati, era pra gente estar namorando desde que a gente se conheceu, mas não sei o que acontece. Não sei. Hoje quero ficar com você, amanhã já não quero mais.” 
- "Tens sido sempre tão legal comigo. Acho que tenho falhado contigo. Podemos fazer alguma coisa juntos amanhã?" ("O dia foi inesquecível e você é um rapaz fantástico, mas fiquei aqui o dia todo. Agora preciso ir embora. Tchau!")...
- “Descobri que tu não gosta de mim!” -“Gosto sim!” - “Não. Não gosta. Tu foi embora. Tu acha que o que eu fiz por ti naquele dia, eu faço pra qualquer mulher?” - "Acho que sim. Não faz?" -"... Vou pegar uma cerveja. Enquanto isso, decida se quer ir embora ou ficar. Você é que sabe".
- “Kati, você quer que eu te dê mais, não é? Então você precisa dar mais também”. 
- “Eu estive pensando em como você tem estado na minha vida esse tempo todo... até o local onde eu quero estudar, é onde você trabalha. Acho que isso foi um sinal de Deus para mim”. 
- “De todas as meninas que eu já conheci, és a melhor - em todos os quesitos. Todos! Quero que leves isso contigo pra tua vida toda: és a melhor!” “Mas, então, por que não estamos juntos?” “Meu bem, não vais entender, não sei o que acontece, eu sou um cara complicado...” 
...............
[Complicado!] Eu nunca soube como lidar com ele. Algumas vezes fui embora, outras tantas fiquei. Fiquei quando deveria ir. Fui quando deveria ficar. Sempre esperei que me procurasse, mas raramente o procurei. Todos esses desencontros me fizeram entender que eu não estava preparada. Precisava primeiro ser liberta da escravidão vivida no Egito, para - depois - chegar à terra prometida...

Precisava libertar-me de medos, opressões, frustrações; conselhos errados, caminhos contrários, remédios inapropriados - males causados por tantas pessoas que, com suas ações e opiniões, acabaram (sem perceber) gerando em mim um sentimento de “inadequação”.
“[...] Ela, que tantas vezes não soube sinalizar o seu território; que tantas vezes foi saqueada pelos poderes do inimigo. Ela, que tantas vezes insistiu em carregar as poeiras dos desafetos pra dentro de casa; que tantas vezes insistiu em levar consigo as marcas do desamor, das feridas, do desrespeito pelo seu corpo. Ela, que tantas vezes não soube colocar cercas no seu território; que não soube proteger-se e foi saqueada de maneira tão injusta...”(2) Padre Fábio de Melo. 
... MAS, EIS QUE UM DIA...
Eu descobri que era a "filhinha amada do Pai"... E... Ha! Tudo mudou!

"Desperta, desperta, põe teus adornos, Sião, veste teus trajes de gala, Jerusalém, cidade santa, porque não mais verás penetrar em tua casa nem incircuncisos nem impuros! Sacode a poeira que te cobre, levanta-te, Jerusalém, e reina, desvencilha-te das cadeias que te prendem o pescoço, filha cativa de Sião", (Isaías 52, 1-2). 

Um dia, tendo compreendido que não era só Jesus que era filho de Deus - que eu também era - primeira coisa que eu fiz foi exortar a mim mesma, dizendo: "Esse rapaz agora está encrencado, porque mexeu com a filha do Rei. Vou contar tudo pro meu Pai e, a partir de agora, é com Ele que ele vai ter que se entender!”. Desde então, tudo o que acontecia eu corria pra contar pro meu Pai (o Rei): “Pai, o Senhor viu o que ele fez?”, “Pai...” 

"Tu fizeste, Senhor, que eu entendesse que ter a Cruz é encontrar a felicidade, a alegria. E a razão é esta: ter a Cruz é identificar-se com Cristo, é ser Cristo, e, por isso, ser filho de Deus", (São Josemaria Escrivá). 

A partir disso, eu pude deixar que - assim como aqueles pais que antigamente escolhiam os maridos para suas filhas ou como o Rei que escolhia um nobre rapaz para casar-se com a princesa – Deus tratasse de “arranjar o meu casamento” com o “José” que Ele tivesse escolhido para mim. Enquanto isto, eu ficava 'em casa' aprendendo tudo com aquela que é bendita entre todas as mulheres: Maria - Mãe de Jesus, minha Mãe e minha Senhora!
"Fazei tudo o que ele vos disser..." (João 2, 5).

Foi ela, a Rainha do céu e da terra, que - em tudo - me ajudou (e continua a me ajudar) - desde resolver coisas que faziam com que eu não gostasse de mim mesma à aprender a cozinhar. E, claro, foi em seu colo que, inúmeras vezes, adormeci enquanto chorava como uma criança porque o Pai não me deixara fazer aquilo que eu tanto queria (estar com o rapaz)!

“Estais sendo provados para a vossa correção: é Deus que vos trata como filhos. Ora, qual é o filho a quem seu pai não corrige?… Mas se permanecêsseis sem a correção que é comum a todos, seríeis bastardos e não filhos legítimos…”, (Hebreus 12, 7-8). 

Para minha provação, o rapaz continuava a cruzar o meu caminho e tudo o que ainda podia fazer era "olhar". E, cada vez que eu me deparava com ele acompanhado por alguma moça, eu refletia sobre o quanto gostaria de estar no lugar dela e, questionava-me se ela se dava conta do quanto era felizarda por estar ocupando aquele lugar.

Na última vez em que nos encontramos, eu já estava pronta para dormir quando ele me ligou, dizendo que queria me ver, porque tinha algo a dizer e tinha que ser "hoje". Embora não tivesse nada de extraordinário a me dizer, no meio da conversa pedi-meu que, quando eu o visse pela rua, não olhasse para ele nem demonstrasse qualquer tipo de emoção, "Porque minha namorada não gosta"... "Namorada? Você está namorando?!"...

“Nada pode acontecer-me que Deus não queira. E tudo o que Ele quer, por muito mau que nos pareça, é, na verdade, muito bom”, São Thomas Morus.

Sair de casa no meio da noite para ouvir que eu não podia mais "olhar para ele" foi (por assim dizer), humilhante. No entanto, a voz e as palavras que eu ouvi naquela noite não foram bem as dele, mas as do Pai, que, por trás disso, claramente me dizia: "Não! Você não vai. Você fica!”. 

["Ir embora com o filho pródigo"...] Eu sabia muito bem o que aquelas palavras queriam me dizer. Por isso, em obediência ao Pai, naquela noite, eu virei-me para o rapaz e disse: "De uma vez por todas: não me procure mais! Você diz que eu sou a garota mais incrível que você já conheceu, mas é com outra moça que você está namorando. Se 'migalhas' são tudo o que você tem a me oferecer - eu dispenso! Eu não vivo de migalhas, rapaz!".

Tendo sentado-me à mesa e participado do banquete do Rei, as migalhas já não me serviam mais. 
Desde então, ele seguiu seu caminho e eu não mais o "vi"...
"Poucos dias depois, ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o filho mais moço para um país muito distante..." (Lucas 15, 13). 

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(4)“Mulheres não precisam de migalhas emocionais, porque podem sentar-se à mesa com o Senhor e se fartarem num banquete”, Alessandra Santtos.

[CONTINUA...] 

Próximo artigo: PARTE 5 - "FUI SEDUZIDA!" :-)

FONTES: 
1 - Padre Fábio de Melo - Livro "Quem me Roubou de Mim".
2 - Padre Fábio de Melo - Pregação "Amar-se para Amar"
https://www.youtube.com/watch?v=J88AGh_72SQ
3 - Padre Fábio de Melo - Pregação "Sou Humano Demais"
4 - Alessandra Santos - Participação no Programa "Manhã Viva" - TV Canção Nova.
https://www.youtube.com/watch?v=-OBhPtjDd5k
– Bíblia Católica on line 
https://www.bibliacatolica.com.br/

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