PARTE 2 - "NÃO ERA DEPRESSÃO. ERA DOR!"

[TESTEMUNHO - PARTE 2]

Sabe aquela oração que eu aprendi com a Eliana Ribeiro? Pois é! Com aquele moço de quem falei, eu só me lembrei de fazê-la quando as coisas começaram a dar errado... 

Tínhamos saído pela 2ª vez e eu enviei-lhe uma mensagem carinhosa. De resposta, recebi: "Estou com minha namorada".
Resolvido o 'conflito', marcamos de nos encontrar e - aí sim - eu fiz a seguinte oração: “Sagrada Família, se este não for o rapaz que Deus tem para mim, tirai-o do meu caminho - faça com que ele se entenda de uma vez por todas com aquela moça e nunca mais me procure. Mas se for ele o rapaz destinado por Deus a mim, derramai vossas bênçãos sobre nós”

Pois bem! Nos reencontramos; passados alguns dias, aquele episódio trágico (para mim) aconteceu; voltamos a nos falar, mas cerca de uma ou duas semanas depois... ele sumiu! As notícias nas redes sociais davam conta de que os dois estavam juntos. 
[Parecia estar clara a resposta à minha oração!] 

Os dias que se seguiram para mim foram de total escuridão - e eu já não vivia um dia de cada vez, mas um dia dividido em três: uma manhã, uma tarde e uma noite, porque viver um dia inteiro era um fardo pesado demais para carregar. Todos os dias, na hora do almoço, eu corria para a capela do Santíssimo (da igreja que fica bem próxima ao meu trabalho) e, ali - sem que eu me desse conta - minhas forças eram recarregadas. Ao final do dia, quando eu chegava em casa, corria para o meu quarto e, em meio às lágrimas, adormecia. Por volta das 18:30, 19:00, eu já estava dormindo. Foi assim por cerca de dois meses até que, em meio àquelas trevas, uma forte luz brilhou. 

"O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz”, (Isaías 9, 1). 

Era uma manhã de sábado (providencialmente, meu aniversário) e fui acordada pela luz forte que invadia meu quarto pela pequena fresta da cortina blackout (só para terem uma ideia da escuridão). Liguei a TV (Canção Nova) e, naquele instante, começava a pregação de um padre muito engraçado. Não sei quem era e não lembro nada do que disse, mas suas palavras me encheram de alegria e de esperança. 

Então, pela primeira vez em dois meses de total escuridão, eu abri as cortinas e janelas do meu quarto e pude me inebriar na luz e calor daquele Sol – que nada mais era do que o próprio Jesus! Em seguida, abri a porta e minha irmã invadiu o quarto me trazendo presentes. O Simba (meu gatinho) fez festa pulando na cama e eu voltei a cantarolar pela casa. E, assim se seguiram os dias: noites frias, escuras, com fortes tempestades; mas também dias de sol, cheios de esperança, céu azul e surpresas de Deus! Parecia que a tempestade havia passado e o solo se recuperaria rapidamente; as águas dariam espaço à terra firme, os passarinhos voltariam a cantar; e - logo - tudo tomaria seu curso normal. [SÓ QUE NÃO...] 

Pouco tempo depois, recebi a seguinte mensagem: “Oi vizinha! Agora estou 100% solteiro! Podemos conversar?” 
Vizinha? Advinha quem era? O rapaz havia se mudado (por um breve tempo) para o meu prédio!

Agora pensa aqui comigo: como era isso? Eu tinha feito aquela oração para ele sumir do meu caminho e agora ele estava morando no meu prédio? Ah! Senhor! Esperançosa, e com as forças renovadas, não hesitei em aceitar o convite. Era noite de Natal e lá fui eu encontrar o tal moço! Um encontro, dois encontros e ele me mandou a seguinte mensagem: “Meu primo está aqui. Vai ficar difícil de a gente se encontrar. Quando ele for embora te aviso!” 
[E nem precisou contar sobre uma nova recaída com a ex...]

Gente! Dessa vez, eu precisei "ficar internada"! As minhas forças, a cama onde eu me joguei, o chão do meu quarto, as paredes - e tudo à minha volta - parecia simplesmente não existir! A sensação era de completo vazio! E lá estava eu novamente naquela cena em que caía num abismo - só que agora, eu já estava bem mais perto do chão... Resultado? Fui resgatada e levada para aquela que eu chamo de "Hospital de Jesus": a (1)Canção Nova e, de dentro do meu quarto mesmo, fiquei "internada"!
... 
"Em terra deserta a encontrou, cercou-a de cuidados e a instruiu; guardou-a como a pupila dos seus olhos. Ele abriu suas asas como a águia e em cima dos seus ombros a levou. E só ele, o Senhor, foi o seu guia”, (Deuteronômio 32, 10ss).
“O Senhor decerto dará a todos o pão da angústia e a água da aflição, não se apartará mais de ti o teu mestre; teus olhos poderão vê-lo e teus ouvidos poderão ouvir a palavra de aviso atrás de ti: 'O caminho é este para todos, segui por ele, sem desviar-vos à direita ou à esquerda'”, (Isaías 30, 20-21). 

Nem preciso dizer que os dias que se seguiram foram ainda mais tenebrosos do que os dois meses anteriores que relatei. Ainda posso ouvir a voz do meu primo querido (Adriano França) batendo na porta e dizendo: “Sai desse quarto, menina! Só fica aí trancada!”. Mas eu não queria sair! Na verdade, "por estar internada", eu não podia sair – embora, muitas vezes, tenha saído mesmo assim! Cuidava da casa, ia à praia, trabalhava, fazia aula de dança, saía com minha irmã, com minhas amigas, ia à academia, dava altas gargalhas com meu primo... mas dentro de mim havia um nó, um aperto no peito, uma vontade constante de chorar. 

Bom! Você pode estar se perguntando: “Esse drama todo por causa de um amor não correspondido? Não é o fim do mundo!” 
Mas para mim não era apenas “mais um amor que não deu certo”. Era a minha vida inteira dando errado. Era o ponto crucial sobre o sentido da vida, da minha vida! Era o passado, o presente e o futuro como um tormento eterno - tão complexo que somente Deus podia entender. Nenhum ser humano no mundo podia aliviar o que eu estava sentindo. Além do mais, eu já estava cansada daquelas frases clichês que, em nada, nos consolam: “Vai passar! O tempo é o melhor remédio!”, “Esse cara não te merece. Logo, logo você encontra alguém melhor!”... O único remédio que fazia algum efeito era aquilo que eu mais gostava de fazer: correr para o meu quarto e, em meio a um choro profundo, contar a Jesus toda a minha dor.

"[...] E embora não diga nenhuma palavra sobre o que estou sofrendo, atraiçoa-me a dor que se reflete no meu rosto", (do (2)diário de Santa Faustina). 

Embora eu tentasse disfarçar, as pessoas percebiam que, lá no fundo, havia algo de nublado. Naturalmente, achavam que era depressão. O rapaz presumia que era mágoa ou algum tipo de ressentimento contra ele. Mas - assim como naquela história [real] da ostra que teve um grãozinho de areia infligido em seu corpo tão sensível - não era mágoa, não era depressão... era dor! Era só um grãozinho de areia – minúsculo - mas doía, doía, doía...

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(3) Havia num fundo de mar uma colônia de ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se disso porque de dentro de suas conchas saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário. Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste. As ostras felizes se riam dela e diziam: “Ela não sai da sua depressão...” 

Não era depressão. Era dor! Pois um grão de areia havia entrado dentro da sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor. O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de sua aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda. Assim, enquanto cantava seu canto triste, o seu corpo fazia o trabalho – por causa da dor que o grão de areia lhe causava. 

Um dia, passou por ali um pescador com o seu barco. Lançou a rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes bateram num objeto duro que estava dentro de uma delas. Ele o tomou nos dedos e sorriu de felicidade: era uma pérola, uma linda pérola. Apenas a ostra sofredora fizera uma pérola...

Isso é verdade para as ostras. E é verdade para os seres humanos.
São os que sofrem que produzem a beleza, para parar de sofrer.
- - - - - - - 

[CONTINUA...]


FONTES: 
1 - Canção Nova: https://www.cancaonova.com/
2 - Diário - A Misericórdia Divina na Minha Alma (Santa irmã Maria Faustina Kowalska), no nº 100.
3 - Artigo “Ostra feliz não faz pérola. Relembre o mundo maravilhoso de Rubem Alves” 
- Bíblia Católica on line 

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