NÃO É NECESSÁRIO PARAR PARA REZAR

“Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, te recompensará”, (Mateus 6, 6).

Depois que casei, tive que reorganizar minha vida de oração.
Não tinha ainda conseguido quando chegou o primeiro filho, o segundo, o terceiro, o quarto... Definitivamente, não conseguia mais rezar como antes: entrar no meu quarto, fechar a porta e ficar algum tempo conversando com Deus; lendo, escrevendo, ouvindo pregações, rezando...
Mal me ajoelhava pra rezar, era interrompida pelo marido me procurando; pelo bebê acordando, chorando; ou pelos afazeres domésticos; pelo trabalho, pelo cansaço…
Imagem: https://saulodecarlo.wordpress.com/2011/02/28/pratique-mateus-66/

Rezava o terço enquanto dirigia para o trabalho ou lavava a louça, mas me distraía, me perdia nas contagens e levava o dia todo para terminar (quando terminava). Começava a ler um livro, o sono não deixava; iniciava a leitura da Bíblia, cochilava; mal começava a falar com Deus e - mesmo de joelhos - adormecia... No fim, eu só lutava - nem dormia, nem rezava.
[Ao menos conseguia ir à missa todos os domingos e ficar bem acordada, pois os meninos não paravam quietos na igreja]. rsrsrs

Quanta coisa eu tinha para contar para Jesus; quanta coisa se acumulando desde que “o meu impossível se realizou”...
Aaaah! Quanta saudade eu sentia de estar com Deus! Quão bem agora eu entendia – e cantava - a música da Eliana Ribeiro “Saudade de Ti”:
Estava com saudade de ti
Eu me afastei, não te procurei
Quando eu mais precisava
[...]
Recebe a minha adoração
Recebe o meu coração
É o meu sagrado, o mais valioso
Que eu posso te dar...

As consequências da “falta de oração” eram muitas - as piores possíveis! Eu ficava irritada, impaciente, angustiada, cansada... Sabia que, sem a oração pessoal, eu não estava mais colocando Deus em primeiro lugar. Confessava! Recaía! Confessava.... “Padre, não tenho rezado; encontro tempo para fazer mil coisas, menos para rezar”.
As cobranças chegaram: “Cadê aquela mulher que se dizia de oração”; mulher de Deus, que rezava? Cadê? Eu não te vejo rezar...”
[...]
“Escuta o que diz: Diante de vós está todo o meu desejo (Sl 37, 10). Não diante dos homens, que não podem ver o coração, mas diante de vós está todo o meu desejo. Se, pois, o teu desejo está diante do Pai, ele que vê o que está oculto, te recompensará.
Não foi em vão que o Apóstolo disse: Orai sem cessar (1Ts 5, 17). Será preciso ter sempre os joelhos em terra, o corpo prostrado, as mãos levantadas, para que ele nos diga: Orai sem cessar? Se é isto que chamamos orar, não creio que possamos fazê-lo sem cessar.
Há outra oração interior e contínua: é o desejo. Ainda que faças qualquer outra coisa, se desejas aquele repouso do sábado eterno, não cessas de orar. Se não queres cessar de orar, não cesses de desejar”, Santo Agostinho.

Hoje, essa reflexão de Santo Agostinho me deixa aliviada por saber que, embora não tenha conseguido rezar, minhas tentativas não foram em vão. Fruto delas talvez tenha sido a resposta que recebi do Senhor durante uma missa em que (suada de tanto tentar fazer as crianças pararem quietas e ficarem em silêncio; enquanto, com a outra mão, eu segurava o bebê no colo) eu disse: “Jesus, o senhor está vendo isso? Que coisa mais difícil!” Ao que Jesus prontamente respondeu: “É exatamente assim que eu os quero”.

Então me lembrei que a oração nos momentos mais difíceis e custosos tem ainda mais valor e compreendi que aquele jeito que eu rezava quando solteira agora deveria ser substituído pelo jeito que eu deveria rezar enquanto esposa e mãe. Fui percebendo que, no meio das minhas tarefas diárias era perfeitamente possível incluir práticas espirituais, bastando apenas fazer algumas substituições, como por exemplo:
  • ao invés de cantar uma canção de ninar para fazer o bebê dormir, rezar o terço, a coroinha de nossa senhora ou outra oração que eu saiba de cor;
  • ao invés de olhar as redes sociais enquanto amamenta, é possível ler um livro (físico ou digital), rezar um tríduo ou uma novena por alguém;
  • ao invés de conversas aleatórias com as crianças enquanto tomamos café da manhã, incentiva-las a contar algo para Jesus: “O que vocês vão contar para Jesus hoje?”; “Jesus, eu aprendi a andar de bicicleta”; "Jesus, eu comecei a ir para a escolinha”; colocar músicas religiosas para que ouçam (aqui, as crianças adoram ouvir “A Treze de Maio” e padre Jonas Abib: “Anuncia-me”, “Compromisso”, entre outras);
  • ao invés de ter a imaginação à solta enquanto lava a roupa, arruma a casa, cozinha... ouvir alguma pregação, a versão cantada do Ofício da Imaculada Conceição, fazer alguma jaculatória ou ir rezando uma Ave Maria para cada pessoa que me vier à mente naquele dia.
E, assim, chego ao final do dia com a “missão de rezar” cumprida, livre daquela sensação de que passei o dia inteiro e não consegui rezar só porque não parei tudo o que estava fazendo para rezar.

“Uma vez conversava com um amigo sacerdote sobre minha dificuldade em ter uma vida de oração como a que tinha antes do casamento e filhos. Ele me deu a seguinte direção espiritual: ‘A mãe não é um monge que terá uma vida voltada para horas e horas de oração. A oração da mãe é feita enquanto ela faz o que deve ser feito no dia-a-dia, oferecendo constantemente suas ações a Deus’”, Danielle Sans.

“Uma mãe que acorda de noite para amamentar é como um monge que acorda para rezar. Tem uma frase de São Josemaria Escrivá que eu gosto muito que ele fala ‘ou encontramos Deus nos pequenos momentos, ou não O encontramos nunca”, Ana Clara M. Freire.

FONTE:
1 – Eliana Ribeiro, Saudade de Ti
2 - Dos Comentários sobre os Salmos, de Santo Agostinho
3 - Instagram: @danielle_sans
4 - Instagram: @anaclara.m.freire
5 – Imagem: https://saulodecarlo.wordpress.com/2011/02/28/pratique-mateus-66/

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